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Beato Pedro Donders: uma perspectiva do Suriname no século XIX

Carta do Missionário Redentorista relata sua visão do país onde cuidou de escravizados e leprosos

Escrito por Natan Gomes

05 JUN 2025 - 11H18 (Atualizada em 05 JUN 2025 - 14H59)

Arte A12/ IA

Uma carta escrita pelo Beato Pedro Donders, Missionário Redentorista, datada de 8 de setembro de 1846 — três anos após sua chegada ao Suriname — traz um relato das condições sociais, econômicas e religiosa do país no século XIX, quando a escravidão ainda era a base da então colônia holandesa.

Na correspondência ao Reverendo Gerard Walter van Someren — que foi seu amigo e professor de Filosofia e Teologia — o beato descreve um cenário social não muito positivo na região, diferente das belas paisagens oferecidas pelo país tropical. Esse contraste é apenas um prenúncio de toda desigualdade encontrada.

O primeiro ponto evidenciado na carta de Pedro Donders é o fato de que, por mais que o país tenha um solo fértil, as plantações estavam sendo abandonadas, já que esse trabalho era reservado apenas aos escravizados.

“Embora o país seja, em geral, muito fértil, ainda assim, muito pouco dele é cultivado, pois, até o presente, o cultivo tem sido feito unicamente por escravos, já que os nativos e as pessoas livres, especialmente na cidade, são demasiado orgulhosos para realizar esse tipo de trabalho. Certamente há um grande número de plantações fora da cidade de Paramaribo, que pouco se assemelha a uma cidade e, por vezes, parece estar enterrada no meio da floresta. No entanto, como o número de escravos está diminuindo, muitas dessas plantações estão sendo abandonadas.”


Arte A12/ IA
Arte A12/ IA
Pedro Donders ficou conhecido por sua evangelização junto aos povos mais sofridos da então colônia holandesa


O missionário também registra em sua correspondência uma crise moral que afetava o lugar, resultado da convivência conflituosa entre as diferentes crenças e a crescente presença do paganismo proveniente da idolatria adotada por alguns grupos.

“Aqui, nos encontramos sozinhos na luta contra o imenso dilúvio da impiedade, sem outra arma senão a cruz e nossa confiança em Deus. A idolatria, também, conta com poucos outros oponentes além de nós. Antigamente, o governo a proibia e punia. Agora, porém, é ignorada. Oh, que tempos! Oh, que costumes!”.

Donders ainda relata a dificuldade de avançar na missão evangelizadora diante de uma população marcada pela pobreza, pelo abandono e por costumes conflitantes à fé católica, mas mantém a esperança de que a fé em Deus e a liberdade possam marcar a vida dos oprimidos.

“Sim, o Deus da Bondade, assim espero, em sua misericórdia e justiça, aliviará a condição dos escravos, tão degradada, tão longamente oprimida, e lhes dará a liberdade pela qual poderão reconhecê-lo como seu Criador e servi-lo com sinceridade. Oh, sim, então teremos diante de nós um imenso campo de trabalho! Que o Bom Deus nos conceda isso!”

Arte A12/ IA
Arte A12/ IA
Em sua carta, o beato redentorista descreve um pouco das vilas e plantações do Suriname


Esta carta revela não apenas os problemas trazidos pela colonização europeia ao Suriname, mas também mostra o papel de missionários como Pedro Donders na luta pela dignidade dos menos favorecidos.

O trabalho apostólico realizado pelo beato junto aos escravos e leprosos o deixou conhecido como “Apóstolo do Suriname”, e sua obra até hoje inspira os redentoristas, que ainda mantém missões ativas no país.

.:: Quem foi o Beato Pedro Donders? ::.

Fonte: Província Redentorista São Clemente

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